A violência contra a mulher, como se sabe, é todo ato que resulte em morte ou lesão física, sexual ou psicológica de mulheres, tanto na esfera pública quanto na privada. Necessário aqui enfatizar que a maior parte do índice nacional de violência contra mulheres decorre de ato praticado pelo companheiro e marido, ex ou atual. É um crime de ódio estabelecido em função do gênero.
A perpetuação de uma cultura que enxerga as mulheres como objetos e os homens como proprietários é também refletida nas estatísticas sobre feminicídio. Ainda segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019, 88,8% das vítimas foram assassinadas por seus companheiros ou ex-companheiros e 66,5% dos crimes aconteceram nas residências das vítimas. No perfil das vítimas, 61% são mulheres negras e 70,7% cursaram até o ensino fundamental.
Esse tipo penal que passou a integrar nosso ordenamento jurídico em agosto de 2006, entrando em vigor no dia 22 de setembro de 2006, tem como principais causas questões sociais históricas que induzem ao estabelecimento de papéis dentro de uma estrutura perversa onde a mulher é induzida a assumir relações verticais desestruturantes.
Quanto maior o tempo de exposição, menos chances terá a mulher de se libertar do sistema de opressão psicológica.
Estamos vivenciando um dos mais graves eventos de saúde pública mundial. As pessoas de diversos países evacuam as ruas e lotam as emergências de hospitais. As estatísticas de mortes em todo mundo desafia nossa inteligência e não condiz com o prognóstico anunciado de baixa letalidade do vírus (inferior a dois por cento para àqueles que estão fora da situação de maior vulnerabilidade). Muitas perguntas, especulações públicas nas redes virtuais e grupos do whatsapp; poucas respostas.
Foi decretada suspensão do direito humano de livre de locomoção com restrição ao trânsito das pessoas nas fronteiras em mais de 50 países por motivo de segurança pública, dos quais 45 fecharam integralmente, sem qualquer restrição suas fronteiras, dentre os quais Rússia, Noruega, Suíça, África do Sul e nossos vizinhos, Peru, Argentina, Chile, tendo o último decretado estado de calamidade, que possibilita de forma mais ampla limitação aos direitos humanos de toda a população, considerando os efeitos nocivos decorrentes do alto nível de transmissão da doença.
No Brasil, em função dos primeiros casos já identificados, o pânico assolou toda a população que desapareceu das ruas, muito embora nossas fronteiras apenas estejam restringindo a entrada de Venezuelanos. Já se fala em crise de abastecimento e em todas as vias de comunicação essa é praticamente a nossa única pauta.
Nesse contexto, temos que falar do adoecimento que transcende a saúde física da população em decorrência da contaminação viral, mas dos efeitos psicológicos decorrentes das informações acerca do Corona vírus que instaurou o pânico em toda a população pela incerteza que permeia as entrelinhas do cenário delineado, causando ansiedade, depressão e agressividade.
Essa situação coloca em risco, pelo isolamento imposto, a vida de muitas mulheres que estão em situação de vulnerabilidade, já vivendo assombradas pelos maus tratos e coações psicológicas cotidianas. Isso sem falar no natural tensionamento relacional do contexto doméstico pelo estado de ansiedade de ofensor já naturalmente violento. Além disso, essa situação dificulta a tomada de posição pela vítima e restringe o acesso as vias cabíveis para enfrentamento, ainda lamentavelmente tão precárias.
Nesses tempos estranhos que estamos vivendo uma boa filosofia seria deixar de lado falar mais do mesmo e tentar nos colocar a serviço do outro efetivamente, seja na escuta ativa ou prestando a informação necessária para salvar vidas.